terça-feira, 21 de outubro de 2008


Somos a cinza do Universo
Restos de uma festa cósmica
Beatas despejadas na imensidão
O espólio de uma festa divina
Os despojos de uma pândega
Fruto de uma relação improvável
Um caroço que criou raízes
Um vício lançado ao acaso

E o caso deu nisto

sábado, 18 de outubro de 2008





Aquela molécula entre o possível e o ser
Aquela potência que vira acto
Aquele ião que luta para nascer
Na escuridão do corpúsculo
Será que encontra a luz no meio dessa onda
Ou perde-se na violência com que o mar bate
Incessantemente e impetuosamente
O de cima virou baixo
O fôlego tão desejado é retardado por tempo demais
Abre a boca
Não tenhas medo
Dá-me a mão



sexta-feira, 17 de outubro de 2008



Foi preciso pegar num cadáver
Para a expressão peso morto, pesar
Um corpo só pesa quando levantado
Só se lhe toma o peso quando se é obrigado a erguê-lo
Por muito que lave esta nódoa, este cheiro não sai
Esfrego-me, esfolio-me
Mas cravou-se fundo na epiderme
Roço-me nas pedras, mas ela não se solta
Esta é para ficar na pele
Esta infiltrou-se na carne

Essa que tanto pesou


terça-feira, 14 de outubro de 2008



Embalo com o fechar dos olhos
Escorrego resvalo para a fresta do sonho
Revejo amigos falo com mutações deles
Aqui não há sequer limbo
É um antro onde toda a gente se junta
Onde tudo é possível
Ao fundo e desfocado sinto reconhecer alguém
Mas está diferente carrega outras gentes consigo
Acordo e não abro os olhos
Mas durmo com eles abertos
Para guardar a minha gruta


sexta-feira, 10 de outubro de 2008




Quando acendes esse monólogo
O tempo desintegra-se esfumaça-se
Abres a janela para esse teu pátio interior
Onde cospes o tempo



Buraco Negro



Tropecei e caí
O tempo deu um passo atrás
A luz ficou à porta receosa
Ou se entrou eu não a vi
O tempo esse sim, entrou, mas entropiou
A luz secou
E eu continuo a cair secamente, e cada vez mais lentamente

À medida que me aproximo do fim




Pulou e subiu
Subiu, SUBIU, SUBIU
Agarrou-se à carne
Que nem uma carraça
Agora é o teu animal de estimação
Agora és tu que procuras sedento
Cravar os dentes em qualquer coisa


segunda-feira, 6 de outubro de 2008




De repente acende-se
Coloca-se onde saem as palavras
Dá uma mão no pensar do tempo
E a outra ajuda o pensamento a passar




sexta-feira, 3 de outubro de 2008





Ando de mão dada com ele
Conhecemo-nos desde miúdos
E sempre nos demos bem
Faz-me companhia quando estou só
Ajuda-me a levantar o copo quando já não consigo
Acende-me os cigarros quando já não sou capaz
Mesmo quando não estou com ele
Ele está comigo
Em mim
Já nascemos assim
Gémeos siameses
Continuamos andar apoiados um no outro
Da curiosidade depressa cresceu uma amizade
Um ponto de apoio
Uma bengala
Um cigarro
Um copo
Um outro